
Capítulo Dezesseis: Mais-valor absoluto e relativo
Ao considerar o processo de trabalho, começamos (veja o Capítulo VII.) Tratando-o de maneira abstrata, além de suas formas históricas, como um processo entre o homem e a Natureza. Afirmamos lá:
“Se examinarmos todo o processo de trabalho, do ponto de vista de seu resultado, é claro que os instrumentos e o sujeito do trabalho são meios de produção e que o próprio trabalho é trabalho produtivo”.
E na Nota 2, mesma página, acrescentamos ainda:
“Este método de determinar, do ponto de vista do processo de trabalho, o que é trabalho produtivo, não é de forma alguma diretamente aplicável ao caso do processo capitalista de produção.”
Agora, prosseguimos para o desenvolvimento deste assunto. Na medida em que o processo de trabalho é puramente individual, um e o mesmo trabalhador une em si todas as funções que mais tarde se separam. Quando um indivíduo se apropria de objetos naturais para seu sustento, ninguém o controla, a não ser a si mesmo. Depois, ele é controlado por outros. Um único homem não pode operar a natureza sem colocar seus próprios músculos em ação sob o controle de seu próprio cérebro. Como no corpo natural, a cabeça e a mão esperam uma na outra, assim o processo de trabalho une o trabalho da mão com o da cabeça. Mais tarde, eles se separam e até se tornam inimigos mortais. O produto deixa de ser o produto direto do indivíduo e se torna um produto social, produzido em comum por um trabalhador coletivo, ou seja, por uma combinação de trabalhadores, cada um dos quais participa apenas, maior ou menos, na manipulação de o assunto de seu trabalho.
À medida que o caráter cooperativo do processo de trabalho se torna cada vez mais acentuado, também, como conseqüência necessária, aumenta nossa noção de trabalho produtivo e de seu agente, o trabalhador produtivo. Para trabalhar produtivamente, não é mais necessário que você faça o trabalho manualmente; suficiente, se você é um órgão do trabalhador coletivo e desempenha uma de suas funções subordinadas. A primeira definição dada acima de trabalho produtivo, uma definição deduzida da própria natureza da produção de objetos materiais, ainda permanece correta para o trabalhador coletivo, considerado como um todo. Mas não é mais válido para cada membro considerado individualmente.
Por outro lado, porém, nossa noção de trabalho produtivo se estreita. A produção capitalista não é apenas a produção de mercadorias, é essencialmente a produção de mais-valor. O trabalhador produz, não para si mesmo, mas para o capital. Não basta, portanto, que ele simplesmente produza. Ele deve produzir um valor excedente. Só esse trabalhador é produtivo, que produz mais-valia para o capitalista e, portanto, trabalha para a auto-expansão do capital. Se dermos um exemplo de fora da esfera de produção de objetos materiais, um professor é um trabalhador produtivo quando, além de mentir sobre os chefes de seus estudiosos, ele trabalha como um cavalo para enriquecer o proprietário da escola. O fato de este ter investido seu capital em uma fábrica de ensino, em vez de em uma fábrica de embutidos, não altera a relação.
Portanto, a noção de trabalhador produtivo implica não apenas uma relação entre trabalho e efeito útil, entre trabalhador e produto do trabalho, mas também uma relação social específica de produção, uma relação que surgiu historicamente e carimba o trabalhador como o meio direto de criar mais-valia. Ser trabalhador produtivo não é, portanto, uma sorte, mas um infortúnio. No livro IV. que trata da história da teoria, será visto com mais clareza que a produção de mais-valia sempre foi, pelos economistas políticos clássicos, a característica distintiva do trabalhador produtivo. Portanto, sua definição de trabalhador produtivo muda com a compreensão da natureza da mais-valia. Assim, os fisiocratas insistem em que apenas o trabalho agrícola é produtivo, uma vez que, sozinhos, eles dizem, produz uma mais-valia. E dizem isso porque, com eles, a mais-valia não existe, exceto na forma de aluguel.
O prolongamento do dia útil para além do ponto em que o trabalhador teria produzido apenas um equivalente ao valor de sua força de trabalho e a apropriação desse excedente de trabalho pelo capital, é produção de valor excedente absoluto. Ele forma a base geral do sistema capitalista e o ponto de partida para a produção de mais-valor relativo. Este pressupõe que a jornada de trabalho já esteja dividida em duas partes, trabalho necessário e trabalho excedente. Para prolongar o trabalho excedente, o trabalho necessário é encurtado por métodos pelos quais o equivalente aos salários é produzido em menos tempo. A produção do valor excedente absoluto gira exclusivamente sobre a duração do dia útil; a produção de mais-valia relativa, revoluciona cada vez mais os processos técnicos do trabalho e a composição da sociedade. Pressupõe, portanto, um modo específico, o modo de produção capitalista, um modo que, juntamente com seus métodos, meios e condições, surge e se desenvolve espontaneamente no fundamento proporcionado pela sujeição formal do trabalho ao capital. No curso desse desenvolvimento, a sujeição formal é substituída pela sujeição real do trabalho ao capital.
Basta apenas se referir a certas formas intermediárias, nas quais o excesso de trabalho não é extorquido por compulsão direta do produtor, nem o próprio produtor ainda formalmente sujeito ao capital. Sob tais formas, o capital ainda não adquiriu o controle direto do processo de trabalho. Ao lado de produtores independentes que realizam seus artesanatos e agricultura da maneira tradicional à moda antiga, fica o usurário ou o comerciante, com a capital de seu usurário ou capital do comerciante, alimentando-os como um parasita. A predominância, em uma sociedade, dessa forma de exploração exclui o modo de produção capitalista; para qual modo, entretanto, essa forma pode servir como uma transição, como aconteceu no final da Idade Média.
Finalmente, como é mostrado pela moderna “indústria doméstica”, algumas formas intermediárias são reproduzidas aqui e ali no fundo da indústria moderna, embora sua fisionomia seja totalmente alterada. Se, por um lado, a mera sujeição formal do trabalho ao capital é suficiente para a produção de mais-valia absoluta, se, por exemplo, é suficiente que o artesão que anteriormente trabalhou por conta própria ou como aprendiz de um mestre tenha tornar-se assalariados sob o controle direto de um capitalista; então, por outro lado, vimos como os métodos de produção de mais-valia relativa são, ao mesmo tempo, métodos de produção de mais-valia absoluta. Mais ainda, o prolongamento excessivo do dia útil acabou sendo o produto peculiar da indústria moderna.
De um modo geral, o modo de produção especificamente capitalista deixa de ser um mero meio de produzir mais-valia relativa, tão logo esse modo tenha conquistado um ramo inteiro da produção; e mais ainda, assim que conquistou todos os ramos importantes. Torna-se então a forma geral, socialmente predominante de produção. Como método especial de produção de mais-valia relativa, permanece efetivo apenas, primeiro, na medida em que se apodera de indústrias que antes eram formalmente sujeitas formalmente ao capital, ou seja, na medida em que são propagandistas; segundo, na medida em que as indústrias que foram ocupadas por ela continuem sendo revolucionadas por mudanças nos métodos de produção. De um ponto de vista, qualquer distinção entre mais-valor absoluto e relativo parece ilusória. A mais-valia relativa é absoluta, uma vez que compele o prolongamento absoluto da jornada de trabalho além do tempo de trabalho necessário à existência do próprio trabalhador. A mais-valia absoluta é relativa, uma vez que torna necessário o desenvolvimento da produtividade do trabalho, o que permitirá que o tempo de trabalho necessário seja confinado a uma parte da jornada de trabalho. Mas se tivermos em mente o comportamento da mais-valia, essa aparência de identidade desaparecerá. Uma vez estabelecido o modo de produção capitalista e generalizado, faz-se sentir a diferença entre mais-valor absoluto e relativo, sempre que houver uma questão de aumentar a taxa de mais-valor.