Capítulo V – Conversa Griô
Capítulo V
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Conversa Griô
Nos dias seguintes, a massa-manobra era conduzida como gado para as ruas da Bruzundanga. Não que faltassem motivos das outras vezes, mas o descontentamento com a dama de vestidinho-comunista levou milhares de revoltosos para as praças públicas.
Toda manipulação da orgia-política-feiticeira atrás das câmeras das emissoras. A gasolina disparou, às famílias endividadas, o bolsa-família não conseguia bancar uma calça jeans da moda… Cartazes, narizes de palhaço e até os poucos que ainda pensavam por conta própria estavam no cortejo de revolta, como umrolezinho que preparava o terreno para um novo golpe-playboy-militar.
Na casa de Michael, as mulatas nuas embrulhadas estavam no patriotismo tupiniquim. Um litro de uísque, charutos cubanos e um bingo com os achacadores do Congresso. Elas eram o prêmio daquela tarde.
No telão, a manifestação-paperview ganhava as ruas e destilava o descontentamento com palavras de ordem, após o brilhante cenário tecido pelos cabeças-do-Congresso, os mesmos que levavam a bufunfa nas cuecas em tempos de crises.
– 15!
– Bingo! Ganhei, quero um pouco de chantily nesta morena juvenil – dizia o senador de sotaque arrastado, rei do Congresso Nacional, o achacador-mor da nova Guarda Nacional.
Assim foi a tarde toda, o lote de meninas nuas se esgotou, a farra acabou. O povo tomava chuva nas ruas daquele dia 15 pelo bem da nação.
Os 15 parlamentares que participavam da festinha na cobertura do vice-presidente encenavam os próximos passos da revolta-marrom.
Não, meus caros leitores, que faltassem motivos, mas a costura política que arquitetou a ferroada na boiada-democrática era soberana.
Inês estava em Belo Horizonte, “passada”. Nunca esperava que, logo no início do mandato, estaria em rota de fuga, mesmo com todas as previsões feita pela cartomante do Planalto, uma babalorixá da 25 de março.
A receita era simples: um vaso grande de barro, terra e adubo adequados para o plantio, uma muda de cana-de-açúcar, capim-cidreira, arruda e pedras de sal grosso.
– Numa segunda-feira de um dia par, após o nascer do sol, prepare o vaso com terra bem adubada e plante a muda de cana ou de bambu, a de cidreira e a de arruda. Entre as mudas, espalhe as sete pedrinhas de sal…
– Agora não Claudette Griô. Os ministros já chegaram, vou me vestir. Não posso recebê-los nua…
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