Capítulo XI – O fim da República
Nota do autor: Assim como profecias, as palavras deste folhetim ganham contornos reais que são mera coincidência?
Depois da captura das planilhas no sertão do Morro Azul, Wilsinho foi surpreendido com noticiário: Bahia estava preso!
O senhor do gado, tinha a promessa do vice Michael, que os juízes blindariam o esquema para o “bem da nação”. Michael já estava de volta ao país. Com a prisão de Bahia, todos estavam na alça de tiro da Polícia Federal. Todos, sem exceção. O ex-presidente Brahma, o mais preocupado…
Wilson foi avisado pelo maçon espanhol. Cinco minutos depois, o celular tocou:
– Wilson, pegou as planilhas? disse em voz apavorada o chefe de gabinete Bahiano.
– P-eguei.
– Vaza então, agora! Tá me entendendo?
– Sim, estou brow.
– Procuro você, até irmão, desligou o encomendador.
Olhando para a tela do Lumia, Wilsinho enfiou o celular no bolso. Suas mãos suavam, era como se o nervosismo de Bahiano tivesse adentrado e ganhado espaço em sua mente. Wilson, na verdade, não sabia o que se passava. Mas, começou, então, entender que estava encrencado. Isso era fato!
Deixou seus novos amigos e pegou um táxi para São Bernardo do Campo.
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No Palácio do Jaburu, o almofadinha-fã-de-novinhas, esqueceu por alguns minutos a vaselina. Umectava o lenço irlandês, desligou o celular. Com as mãos contra a parede falsa de madeira de lei, pressionou a testa sobre a superfície. Fazia uma espécie de prece mental:
– Estamos fudidos! Fudidos! Filhos da puta! Eu disse para não colocar o pessoal da Odebrecht no meio, eu disse! O que faremos agora? E a planilha? filosofou.
Com as mãos tremulas, devido à idade, já que, por mais que se tente, ainda não existe botax para um sistema nervoso flácido, percebeu setenta ligações perdidas.
– Emílio já está me procurando. Espero que o Ikke tenha conseguido a planilha, disse procurando o contato do empresário na agenda do celular.
– Ikke?
– Michael?
– Pegou a planilha com o Coalhada? Pegou? Precisamos dela!
– Sim, está a caminho. Pegaremos o pendrive em São Bernardo. O Brahma já está sabendo!
– Não deixe esta planilha cair em mãos erradas, preciso desenhar? Esta é nossa salvação. Entende?
– Eu sei, o Marcel Bahia foi levado ao Moro, em Curitiba. E o Elílio?
– Não o atendi. To sem coragem. Dei minha palavra que esta brincadeira iria ficar só nas menores.
– Olha, espero que entenda, o acordo previa que o campo do Martelo não estivesse na operação!
– Não posso garantir mais nada. Por isso temos que pegar a planilha, desligou o vice-presidente.
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Enquanto ludibriava a população cristã contra a inquisição-gay, o achacador do Congresso também percebeu que agora estava na lista. Todo aquele acordo de desviar o foco, assim o fez. Da Cunha até colocou pra votação um anteprojeto de Reforma Política e um projeto de lei que tramitava desde 1993.
Como efeito dominó, a prisão de Marcel Bahia derrubava o ânimo dos parlamentares e os índices da Bovespa. Ligou para o senador de sotaque arrastado:
– Calha, pegaram o filho do Elílio, quebraram o acordo. Terão que arcar!
– Se acalme. A planilha está com o Ikke, sem ela serão apenas indícios sem provas! É por isso que deixamos o Ministério Público e os saltimbancos do Moroso ciscarem, ciscarem, ciscarem…
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