Capítulo IV – Reunião Familiar
Capítulo IV
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Reunião familiar
Ikke e Ronei estavam na sala do escritório em Botafogo. Encenaram a falência e foi o suficiente.
A televisão ligada. Um a um, a lista dos escolhidos. Os achacadores do Congresso, os que receberam polpudas quantias de empreiteiras “governamentais”. O toma lá, dá cá democrático.
O combinado era apurar o Congresso, eliminar os “gananciosos”, os engravatados que agiam contra a proposta do governo luso-petista.
Enquanto o âncora da emissora, financiada pelo governo, divulgava o nome dos parlamentares, as mulatas se embriagavam com cerveja européia. Vestidas com biquínis patriotas, aguardavam com apreço, o início da festa no burguês-resort.
Por mais uma vez, a vaselina não foi violada, como prometera…
O telefone, escandalosamente, rompeu a concentração do patriarca.
– Ikke, algo saiu fora do controle, disse Michael em voz embargada.
– Como assim? Indagou Ikke.
– Rastrearam além do acordado e estamos, agora, na lista de alvos, titubeou o vice-presidente.
– Como? Não… Paguei o preço, fui à falência, quero paz agora. Você e os seus resolvam o impasse. Não estarei no país até a história terminar. Não me ligue. Eu te procurarei, vão levar o resto de bens que estão no meu nome e de familiares, será o suficiente, desligou o empresário.
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Por certo, todo plano arquitetado para deixar o caminho livre para mais 20 anos de poder do grupo patriarcal do lupemproletariado estava em xeque.
Naquele dia e nos seguintes, um a um, tiveram seus nomes estampados nos tabloides a cada minuto.
Os que aguardavam a ruína do governo riram pouco, pois sabiam que também estavam na lista de Janot, o procurador encomendado para depurar os achacadores. O tiro saiu pela culatra…
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A toda poderosa ainda não tinha sido incluída entre os contraventores, mas sabia que era questão de tempo, ou de acórdão.
Em seu banheiro, no Palácio da Alvorada, um espumante da reserva nacional, tirou o vestidinho vermelho-comunista enquanto banheira era invadida por loções e água mineral. Com a mão direita, ligou a televisão no canal de notícias, aos poucos, submergiu o corpo volumoso na mistura relaxante. Tirou os brincos, presente do ditador cubano, encostou a nuca na louça francesa e olhou firmemente para o teto perfurado com tijolos translúcidos.
À esquerda, desceu a mão pelo abdômen, até encontrar o ponto G. Estava excitada, apreensiva e perseguida por seus opositores. Fechou os olhos e relaxou, o seu exemplar de 50 tons de cinzas que estava ancorado na louça afundou junto com os movimentos bruscos da presidenta…
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