Capítulo VIII

Capítulo VIII – Pequeno homem na Terra de Ulysses

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VIII – Pequeno homem na Terra de Ulysses

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Desceu do busão, no Terminal Rodoviário de Piracicaba, com sua pochete de estimação, e pé esquerdo. O relógio marcava 13:13.
Chamou um táxi e custeou a curta-viagem para Rio Claro, a Terra de Ulysses Guimarães. Em frente ao Paço Municipal saiu do veículo. Pagou R$15,15 pela carona.
Wilson, nunca esteve no interior. Aventurou-se, no máximo, por cidades satélites da Grande São Paulo.
Subiu, então, as escadarias de mármore, no primeiro andar, do suntuoso prédio, entrou na ante-sala de atendimento no gabinete do prefeito, próxima a um quadro enorme com o brasão daquele município.
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No espaço apertado, a máxima de “Estado Forte” era nítida. Um emaranhado de mesas, cadeiras e comissionados: a mesma cartilha do governo federal.
Entre o público e o status quo dos “cães de guarda”, existia uma parede translúcida impenetrável. Por várias vezes, os senhores (que custeiam os salários de toda a máquina) esperavam por uma dezena de minutos antes de serem notados.
Neste período, era audível, para Wilsinho, o teor de uma dezena de conversas telefônicas entre os assessores – que ali estavam – e os usurpadores do poder. Caminhão de terra para um; poda de mato para outro; cesta básica para ajuda o eleitor do vereador x; exame para ajudar eleitor do vereador y. Ali, afinal, todos os problemas da esfera pública eram solucionados. Talvez, pensava Wilson, uma administração pública, pudesse ser resumida em várias salas como aquela, onde o povo pedia e pudesse ser agraciado, em troca de votos.
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Com um soco, seguido de um estrondo, na bancada de madeira compensada, das mais vagabundas, Wilson esperneou:
– Oh, Cristo! Alguém para me atender?
Uma ninfeta, de cabelos lisos e loiros, levantou bruscamente, fechando o joguinho de paciência na tela do computador:
– Pois não.
– Vim a pedido do Baiano.
– Que Baiano, senhor?
– Chefe de gabinete lá na Câmara de São Paulo.
– O senhor queria falar com quem? Qual seu nome?
– Vim pegar uma encomenda. Um pendrive…
– Só um momento, disse a comissionada voltando em direção a mesa, teclando o ramal do Chefe de Gabinete do prefeito daquela cidade.
Cinco minutos depois, a moçoila voltou:
– Um minuto, por favor, que o senhor que o Sr. Pedro de Marte irá atende-lo.
– Ok.
Wilson esperou por mais de uma hora. Neste interstício, fixou os olhos no decote da atendente e desejou o corpo da estranha.
As gotas de suor do corpo da moça deslizavam no pingente de ouro adquirido no natal e adentrava, como uma nota musical, suas vestes e desaparecia dos olhos dos apreciadores. Foi assim, que Wilson conheceu Janaina, desejando-a.
A portinhola se abriu e uma figura caricata chamou por Wilson.
– O doutor deseja falar comigo? Disse o pequeno homem, rechonchudo. Suas bochechas terminavam nas narinas, onde aparecia – como um quadro numa parede sem pintura – um bigode espanhol.
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