Destilaria Archangelo: da fartura a falência

Pode se citar que a emigração de parte da família Archangelo da região de Araras/SP para a região de Ourinhos/SP se deu durante o processo de estimulo e modernização na produção de açúcar e álcool (Selani, 2005). Mais especificadamente, na segunda etapa do famigerado PROALCOOL.

Nessa Segunda Fase do PROÁLCOOL, três destilarias autônomas são implantadas no EDR de Ourinhos. A primeira delas é a Destilaria Coraci Ltda., fundada em 1980 por empresários de São Paulo ligados ao ramo de equipamentos eletrônicos, mas que elaboraram um projeto de produção de álcool a partir da mandioca obtendo aprovação; a segunda agroindústria alcooleira foi a Destilaria Archangelo Ltda., que se instala em São Pedro do Turvo no ano de 1984, cujo proprietário era dono de alambique; e a terceira agroindústria, a empresa Sylvestre Ferraz Egreja (Destilaria Almey), outrora proprietária da Usina Santa Rosa de Lima (1964 – 1973), município de Ipaussu

(Selani, 2005).

Em 1983 surge o projeto de instalação da Destilaria Archangelo Ltda., apresentado pelas Indústrias Reunidas Archangelo, no município de São Pedro do Turvo (figura 29). O referido projeto foi aprovado em 3 de maio de 1984, pela Comissão Executiva Nacional do Álcool (CENAL). O proprietário da destilaria, o Sr. Edgar Archângelo, natural de Conchal, Estado de São Paulo, implantou atividades ligadas ao ramo industrial de produtos de mandioca e de aguardente.

Segundo BRAY (1980),


“o Alambique Archangelo, fundado em 1964 no município de São Pedro do Turvo, produzia e engarrafava a aguardente Turvinha, na época em que não havia controle do mercado aguardenteiro e a imposição dos preços era feita pelas engarrafadoras. Quando surgiu a Cooperativa dos Produtores de Aguardente do Estado de São Paulo, a empresa deixou de engarrafar aguardente e passou a ser produtor associado da cooperativa”.

No entanto, com a política de estímulos à produção de álcool dadas pelo PROÁLCOOL, a família investe na implantação de uma destilaria autônoma, cujas características são nitidamente familiares, onde a capacidade instalada de produção de álcool é de 60.000 litros por dia.


A agroindústria entra em atividade e a sua produção inicial de álcool ocorre durante a safra 1984/85. Continua a produzir álcool nas safras de 1985/86, 1986/87, 1987/88 e 1988/89. Durante as safras de 1989/90, 1990/91 e 1991/92, a empresa paralisou suas atividades devido a sérias dificuldades financeiras, que coincidentemente, ocorre na época em que o PROÁLCOOL estava em crise e o Instituto do Açúcar e Álcool é extinto.


No entanto, a partir da safra 1992/93, a agroindústria entra novamente em atividade, produzindo álcool até a safra 2000/01, quando passa por novas dificuldades financeiras, que resultam no fechamento da empresa, através de processo de falência. Os familiares do antigo proprietário da agroindústria ainda residem no EDR de Ourinhos (mais especificamente no município de Ourinhos).

PRODUÇÃO

SAFRA 84/85

A Destilaria Archangelo Ltda. iniciou a produção alcooleira na safra 1984/85, quando produziu 1.559.000 litros de álcool (tabela 28). Cerca de R$ 2,1 milhões em valores atuais.

SAFRA 86/87

Esta atingiria 9.897.000 litros na safra 1986/87, significando um crescimento extraordinário de 535% na produção de álcool. Cerca de R$ 13,8 milhões em valores atuais.

SAFRA 88/89

Na safra 1988/89, a produção de álcool pela empresa demonstrou declínio de 24%, sendo produzidos 7.504.000 litros em comparação aos 9.897.000 litros de álcool produzidos na safra 1986/87. Cerca de R$ 10,8 milhões.

SAFRA 90/91

Durante a safra 1990/91 a Destilaria Archangelo Ltda. não operou em decorrência de sérios problemas econômicos, coincidindo com a época de extinção do IAA.

SAFRA 92/93

Mas a partir da safra 1992/93 a empresa volta novamente à produção de álcool. Nesta safra foram produzidos 3.172.000 litros de álcool pela Destilaria Archangelo Ltda., uma produção modesta se comparada aos 7.504.000 litros produzidos na safra 1988/89. Cerca de R$ 4,4 milhões em valores atuais.

SAFRA 94/95

Entretanto, na safra 1994/96 foi registrada uma grande produção de álcool na empresa, que produziu 8.942.000 litros de álcool, uma das maiores de sua história. Isso representou um crescimento de 182% sobre a safra 1992/93, quando foram registrados 3.172.000 litros produzidos. Cerca de R$ 12,5 milhões em valores atuais.

SAFRA 96/97

No período de 1996/97, se inicia uma fase de declínio na produção alcooleira desta empresa, que apresenta sérios problemas econômicos que vão se agravando até o encerramento das atividades da empresa (processo de falência), na safra 2001/02. Para o período 1996/97 ocorreu a produção de 6.312.000 litros de álcool, sendo 29,5% inferior à produção obtida na safra 1994/95 (8.942.000 litros de álcool). Cerca de R$ 8,8 milhões em valores atuais.

SAFRA 98/99

Na safra 1998/99 houve uma produção de 4.089.000 litros de álcool em relação aos 6.312.000 litros produzidos no período 1996/97, representando uma redução de 35% na produção alcooleira. Cerca de R$ 5,7 milhões em valores atuais.

SAFRA 00/01

E para finalizar, a safra 2000/01 teve uma produção de 1.551.000 litros de álcool, o que equivale a uma produção de álcool 62% menor do que a registrada no período de 1998/99 (4.089.000 litros de álcool). Cerca de R$ 2,1 milhões em valores atuais.

Um valores de arrecadação estimado, em valores de 2022, de R$ 60 milhões.

ANÁLISE DO PERÍODO
De um modo geral, a evolução na produção de álcool pela Destilaria Archangelo Ltda., se comparadas as safras inicial (1984/85) e final (2000/01), que compreendem dezesseis anos de estudo, apresentou um resultado pouco satisfatório. Em primeiro lugar, a empresa não apresentou atividade de industrialização de álcool correspondente à safra 1990/91.

Em um segundo instante, a empresa é marcada por dois ciclos, que são delimitados pela suspensão das atividades na safra 1990/91. O primeiro ciclo se inicia com a produção de álcool na safra 1984/85, atinge o ponto máximo na produção de álcool na safra 1986/87, seguido de um período de declínio na safra 1988/89, resultante da crise econômica pela qual a destilaria estava passando, sendo que por precaução o seu proprietário decidiu suspender as atividades na safra 1990/91.

O segundo ciclo se inicia com a retomada das atividades a partir da safra 1992/93, tendo seu ápice na safra 1994/95. A partir deste momento, a agroindústria começa a apresentar declínio constante na
produção de álcool por safras seguidas, até atingir o auge de sua crise na safra 2000/01, com um dos mais baixos níveis de produção já contabilizados pela empresa. Não conseguindo saldar seus compromissos, a Destilaria Archangelo Ltda. entra em processo de falência durante a safra 2001/02, encerrando suas atividades na produção alcooleira do EDR de Ourinhos.

A Destilaria Archangelo Ltda., com uma produção alcooleira inferior, não consegue enfrentar a crise resultante dos baixos preços do combustível no mercado, e encerra suas atividades na safra 2001/02 (falência da empresa).

MOAGEM


Uma importante destilaria do EDR de Ourinhos, a Destilaria Archangelo Ltda. utilizou 118.474.000 toneladas de cana-de-açúcar no processo de industrialização durante a safra de 1985/86, para a produção de álcool (tabela 30).

Do total, 185.904.000 toneladas foram cana proveniente de propriedades da empresa (cana própria), perfazendo 67% do total, e a cana proveniente de fornecedores atingiu 39.650.000 toneladas, o equivalente a 33% do total.

Na safra 1989/90 a Destilaria Archangelo Ltda. não apresentou produção devido aos problemas econômicos enfrentados pela empresa.

No período de 1995/96, a agroindústria moeu 110.512.000 toneladas de cana-de-açúcar. A cana produzida pela Destilaria Archangelo Ltda. (cana própria) foi 52.721.000 toneladas e os fornecedores contribuíram com 57.791.000 toneladas de cana que foram industrializadas pela agroindústria, representando 52% do total.


No final da safra 1998/99 a Destilaria Archangelo Ltda. industrializou 55.456.000 toneladas de cana-de-açúcar, acusando um declínio de 50% sobre o total de cana esmagada na safra 1995/96, que foi de 110.512.000 toneladas de cana. A cana-de-açúcar produzida nas propriedades da agroindústria (cana própria) foi 16.683.000 toneladas, representando 30% do total e os fornecedores contribuíram com 38.773.000 toneladas, o que equivale a 72% do total da cana esmagada nessa safra.


Para efeito de análise quanto ao total de cana utilizada para industrialização na Destilaria Archangelo Ltda., utiliza-se o período compreendido entre as safras de 1985/86 e 1998/99 (safras 1985/86, 1995/96 e 1998/99), embora na safra de 1989/90 a empresa não tenha apresentado produção. A participação que envolve a produção de cana própria (produzida pela empresa) variou de 30% (safra 1998/99) a 67% (safra 1985/86). Esta agroindústria passou por sérias dificuldades financeiras, inclusive com a suspensão das atividades, incluindo o período de 1989/90, e mesmo após a retomada da produção os índices obtidos eram negativos, chegando a uma queda de 50% na quantidade de cana-de-açúcar esmagada entre as safras 1995/96 e 1998/99.


A participação de fornecedores na Destilaria Archangelo Ltda. na produção de cana-de-açúcar apresentou crescimento nas safras 1985/86, 1995/96 e 1998/99, quando chegou a 70% do total de cana industrializada pela empresa. Na safra 2001/02 a empresa entra em processo de falência, encerrando definitivamente sua participação no setor sucroalcooleiro do EDR de Ourinhos.

REFERÊNCIAS

BRAY, S. C. A Utilização da Terra em Bebedouro e o Papel Atual da Cultura da Laranja. 1974. 107 f. Dissertação (Mestrado em Geografia) Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo.


__ A Cultura da Cana-de-Açúcar no Vale do Paranapanema: um estudo de Geografia Agrária. 1980. 304 f. Tese (Doutorado em Geografia) – Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo.


BRAY, S. C.; FERREIRA, E. R.; RUAS, D. G. G. As Políticas da Agroindústria Canavieira e o PROÁLCOOL no Brasil. Marília: UNESP Publicações, 2000. 104 p.

SELANI, R. L. Evolução da cana-de-açúcar no Escritório de Desenvolvimento Rural (EDR) de Ourinhos e o papel das esferas públicas e das agroindústrias do açúcar e do álcool no processo de organização do espaço. Rio Claro : [s.n.], 2005. Dissertação (mestrado) – Universidade Estadual Paulista,
Instituto de Geociências e Ciências Exatas.

Leia mais:

Em 1983 surge o projeto de instalação da Destilaria Archangelo Ltda., apresentado pelas Indústrias Reunidas Archangelo, no município de São Pedro do Turvo (figura 29). O referido projeto foi aprovado em 3 de maio de 1984, pela Comissão Executiva Nacional do Álcool (CENAL). O proprietário da destilaria, o Sr. Edgar Archângelo, natural de Conchal, Estado de São Paulo, implantou atividades ligadas ao ramo industrial de produtos de mandioca e de aguardente: https://antonioarchangelonews.wordpress.com/2020/11/23/destilaria-archangelo-da-fartura-a-falencia/

As comemorações do primeiro aniversário da Destilaria Archangelo e dos 72 anos de existência do Patriarca Amilcar Archangelo constaram da missa na capela “São José”, celebrada pelo Monsenhor Manoel Pérciles Campos, pároco de Ocauçu:
https://antonioarchangelonews.wordpress.com/2020/11/23/destilaria-archangelo-1o-ano-produzindo-alcool/

Tem-se visto na mídia em geral manifestações iradas a respeito do calote que os ruralistas pretendem aplicar no governo federal. Ocorre que o enfoque é, para dizer o mínimo, uma completa aberração: https://antonioarchangelonews.wordpress.com/2020/11/23/calote-

2 comentários em “Destilaria Archangelo: da fartura a falência

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