Português fácil: Fonética

É parte é dedicada ao estudo da produção da fala do ponto de vista fisiológico e articulatório. Inicialmente, descrevemos o aparelho fonador e discutimos o mecanismo fisiológico envolvido na produção da fala. Em seguida, consideramos as propriedades articulatórias envolvidas na produção dos segmentos consonantais e vocálicos.

De posse deste instrumental podemos descrever, classificar e transcrever os sons da nossa fala. O instrumental a ser apresentado nas próximas páginas permite-nos descrever qualquer som de qualquer língua natural. Neste livro enfatizamos a descrição dos sons do português brasileiro.


A fonética é a ciência que apresenta os métodos para a descrição, classificação e transcrição dos sons da fala, principalmente aqueles sons utilizados na linguagem humana. As principais áreas de interesse da fonética são:

Fonética articulatória – Compreende o estudo da produção da fala do ponto de vista fisiológico e articulatório.


Fonética auditiva – Compreende o estudo da percepção da fala.


Fonética acústica – Compreende o estudo das propriedades físicas dos sons da fala a partir de sua transmissão do falante ao ouvinte.


Fonética instrumental – Compreende o estudo das propriedades físicas da fala, levando em consideração o apoio de instrumentos laboratoriais.

Considerando-se, portanto, as limitações fisiológicas impostas ao aparelho fonador, podemos dizer que o conjunto de sons possíveis de ocorrer nas línguas naturais é limitado. Na verdade, um conjunto de aproximadamente 120 símbolos é suficiente para categorizar as consoantes e vogais que ocorrem nas línguas naturais.

A descrição dos segmentos consonantais

Todas as línguas naturais possuem consoantes e vogais. Entenderemos por segmento consonantal um som que seja produzido com algum tipo de obstrução nas cavidades supraglotais de maneira que haja obstrução total ou parcial da passagem da corrente de ar podendo ou não haver fricção. Por outro lado, na produção de um segmento vocálico a passagem da corrente de ar não é interrompida na linha central e portanto não há obstrução ou fricção.

Tabela fonética consonantal

Ditongos


Ditongos são geralmente tratados como uma sequência de segmentos. Um dos segmentos da sequência é interpretado como uma vogal e o outro é interpretado como “semivocóide, semicontóide, semivogal, vogal assilábica” ou de “glide”. Faremos uso do termo glide em detrimento destes outros termos (pronuncia-se “gl[ai]de”). Apresentamos a seguir um recurso descritivo da fonética para a caracterização de ditongos.


Do ponto de vista fonético o que caracteriza um segmento como vocálico ou consonantal é o fato de haver ou não obstrução da passagem da corrente de ar pelo trato vocal. Segmentos vocálicos apresentam a passagem livre da corrente de ar. Segmentos consonantais apresentam obstrução ou fricção. Glides podem apresentar características fonéticas de segmentos vocálicos ou consonantais. É a função dos segmentos na estrutura sonora que justifica a análise mais adequada para os glides em cada língua em particular.

Em português, classificamos os glides como segmentos vocálicos. A análise que justifica tal proposta é discutida na parte de Fonêmica. Um ditongo é uma vogal que apresenta mudanças de qualidade continuamente dentro de um percurso na área vocálica. As vogais que não apresentam mudança de qualidade são chamadas monotongos.

Um ditongo pode ser descrito e identificado com referência ao segmento inicial e final do contínuo. Ao representarmos o ditongo [ai] da palavra “pais” estamos expressando que ocorre um movimento contínuo e gradual da língua entre duas posições articulatórias vocálicas: de [a] até [i]. Em tal articulação, os dois segmentos [a] e [i] ocupam uma única sílaba. Um destes segmentos é o núcleo da sílaba (no caso de “pais” o núcleo da sílaba é [a]).

O outro segmento é assilábico não podendo ser núcleo da sílaba e corresponde ao glide. Colocamos o símbolo [i] abaixo do glide para marcar a assilabicidade (no caso de “pais” o glide é [I]): [‘pais].

O movimento articulatório de um ditongo difere do movimento articulatório de duas vogais em sequência, sobretudo quanto ao tempo ocupado na estrutura silábica e quanto à mudança de qualidade vocálica. O par de palavras “pais” e “país” ilustra um ditongo – na primeira palavra – em oposição a uma sequência de vogais – na segunda palavra. Durante a articulação de duas vogais em sequência – como na palavra “país” – cada vogal ocorre em uma sílaba distinta e cada vogal apresenta qualidade vocálica específica. Neste caso dizemos que há um hiato. Já em ditongos – como na palavra “pais” – os segmentos vocálicos [a] e [i] ocorrem na mesma sílaba e há uma mudança contínua e gradual entre as vogais em questão.


Portanto, um ditongo distingue-se de uma sequência de vogais pelo fato do ditongo ocorrer em uma única sílaba enquanto que na sequência de vogais cada vogal ocorre em sílaba diferente. Observe ainda que em sequências de vogais – como na palavra “país” – cada uma das vogais tem proeminência acentuada constituindo o pico de sílaba.


Já nos ditongos, apenas uma das vogais tem proeminência acentual e constituirá o pico da sílaba. A outra vogal do ditongo não pode ocupai’ um pico silábico – caso contrário esta vogal ocuparia uma sílaba distinta e teríamos uma sequência de vogais. As vogais que não ocupam o pico silábico nos ditongos – por exemplo o i de “pais” – são aquelas comumente referidas como “semivocóide, semicontóide, semivogal, vogal assilábica” que denominamos de “glide”. O termo glide refere-se portanto às vogais sem proeminência acentual nos ditongos.

Fonte

Silva, Thaís Cristófaro. Fonética e fonologia do português : roteiro de estudos e guia de exercícios / Thaís Cristófaro Silva. 7. ed. – São Paulo : Contexto, 2003.

Um comentário em “Português fácil: Fonética

  1. camilyvitriajudicidelima 9 de agosto de 2022 — 15:42

    Bom professor a uma grande diferença entre esses países é seus continente, e costumes comidas , esportes e etc de coisas.

    Curtido por 1 pessoa

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