Epistemologia Genética de Jean Piaget

A Epistemologia postula que a aquisição de conhecimentos depende tanto das estruturas cognitivas do indivíduo como da interação do com seu meio (semelhante as proposições das neurociências), ocorrendo através de 4 fases:

  • sensório-motor,
  • pré-operatório,
  • operatório concreto,
  • operatório formal

Da mesma forma a passagem entre estágios, depende da superação do anterior. Assim o desenvolvimento ocorre de forma que as aquisições de um período sejam integradas nos períodos posteriores.

A teoria depende de 4 elementos:

  1. Maturação do sistema nervoso central;
  2. Experiências físicas e lógicos;
  3. Transmissão social, e;
  4. Equilibração das estruturas cognitivas

Sensório-Motor

Período sensório-motor é o período da vida do ser humano compreendido entre o nascimento e os dois anos de idade.

As principais aquisições do período sensório-motor, destaca-se a construção da noção do “eu”, através da qual a criança diferencia o mundo externo do seu próprio corpo. O bebê o explora, percebe suas diversas partes experimenta emoções diferentes,formando a base do seu autoconceito. Ao longo desta etapa, a criança irá elaborar a sua organização psicológica básica, seja no aspecto motor, no perceptivo, no afetivo, no social e no intelectual.

Para Piaget nesse período há existência de inteligência antes da linguagem. Essencialmente prática, isto é, tendente a resultados favoráveis e não ao enunciado de verdades, essa inteligência nem por isso deixa de resolver, finalmente, um conjunto de problemas de ação (alcançar objetos afastados, escondidos, etc.), construindo um sistema complexo de esquemas de assimilação, e de organizar o real de acordo com o conjunto de estruturas espácio-temporais e causais.

A ausência da função semiótica é a principal característica deste período. A inteligência trabalha através das percepções (simbólico) e das ações (motor) através dos deslocamentos do próprio corpo. É uma inteligência iminentemente prática. Sua linguagem vai da ecolalia (repetição de sílabas) à palavra-frase (“água” para dizer que quer beber água) já que não representa mentalmente o objeto e as ações. Sua conduta social, neste período, é de isolamento e indiferenciação (o mundo é ele).

De acordo com a tese piagetiana

“a criança nasce em um universo para ela caótico,habitado por objetos evanescentes (que desapareceriam fora do campo da percepção),com tempo e espaço subjetivamente sentidos, e causalidades reduzidas ao poder das ações, em uma forma de onipotência”

No recém nascido portanto, as funções mentais limitam-se ao exercício dos aparelhos reflexos inatos. Assim sendo, o universo que circunda a criança e conquista mediante a percepção e os movimentos (como a sucção,o movimento dos olhos, por exemplo).

Progressivamente a criança vai aperfeiçoando tais movimentos reflexos e adquirindo habilidades e chega ao final do período sensório-motor já se concebendo dentro de um cosmo.

No estágio sensório-motor,a criança busca adquirir controle motor e aprender sobre os objetos físicos que o rodeiam.Nesse estágio o bebê adquire o conhecimento por meio de suas próprias ações que são controladas por informações sensoriais imediatas.

O estágio divide-se em até seis sub estágios nos quais o bebê apresenta desde reflexos impensados até uma capacidade de representar o uso de símbolos. As principais características observáveis durante essa fase que é até os dois anos de idade da criança são:

  • A exploração manual e visual do ambiente;
  • A experiência obtida com ações(a imitação);
  • A inteligência prática(através de ações);
  • Ações como agarrar, sugar, atirar, bater e chutar;
  • As ações ocorrem antes do pensamento;
  • A centralização no próprio corpo;
  • Noção de permanência do objeto.

Pré-Operatório

O segundo estágio de desenvolvimento considerado por Piaget é o estágio pré-operatório, que coincide com a fase pré-escolar e vai dos dois anos de idade até os sete anos, em média.

Nesse período, as características mais importantes são:

  • inteligência simbólica;
  • o pensamento egocênctrico, intuitivo e mágico;
  • a centração (apenas um aspecto de determinada situação é considerado);
  • a confusão entre aparência e realidade;
  • ausência da noção de reversibilidade;
  • o raciocínio transdutivo (aplicação de uma mesma explicação a situações parecidas);
  • a característica do animismo (vida a seres inanimados).

Os cinco aspectos mais importantes do pensamento neste estágio são:

Egocentrismo: são incapazes de compreender as coisas de outro ponto de vista que não seja o seu. Tem a tendência de tomar o seu ponto de vista como o único, sem compreender o dos demais por estar centrados em suas ações. O egocentrismo se caracteriza basicamente por uma visão de realidade que parte do próprio eu.

Dificuldades de transformação: são incapazes de compreender os processos que implicam mudança. Seu pensamento é estático, estão sempre no momento presente, não considerando os anteriores, nem antecipando o futuro.

Irreversibilidade: são incapazes de compreender um processo inverso ao observado. Seu pensamento é irreversível.

Centralização: incapacidade para se centrar em mais de um aspecto da situação. São incapazes de globalizar.

Não conservação: não são capazes de compreender que a quantidade pode permanecer embora mude seu aspecto ou aparência. No exemplo da figura em massa de modelar, não entenderiam que a quantidade seria a mesma com qualquer formato que assumisse.

Neste estágio os padrões de pensamento sensório-motor evoluem para um incremento da capacidade de usar símbolos e imagens dos objetos do ambiente.

Essa fase é marcada pelo aparecimento da linguagem oral, que lhe dará possibilidade de ir além de utilizar a inteligência prática decorrente dos esquemas sensoriais e motores, formados na fase anterior.

A criança desenvolve a linguagem, as imagens mentais e jogos simbólicos, assim como muitas habilidades pré-conceituais. Apesar disso, o pensamento e a linguagem estão reduzidos, no geral, ao momento presente e a acontecimentos concretos.

Desenvolve atividade de comunicação de tipo informativo e também de controle da conduta dos outros, isto é, pede, pergunta, dá ordens, etc., para provocar as condutas que deseja em outros. A criança já antecipa o que vai fazer, desenvolve o pensamento, no final do período começa a querer saber a razão causal e finalista de tudo, é a famosa fase dos (porquês).

Seu raciocínio é intuitivo, está ligado às suas próprias percepções e às aparências das situações.

Acontecimentos do pré-operatório:

  • interiorizar a palavra
  • socialização da ação – brinca sozinha mas a dois sem interação
  • desenvolve a intuição – interiorização da ação, antes perceptiva-motora, passa ao plano intuitivo das imagens e experiências mentais.

Outras características:

  • Intuição – conhecimento que se obtém pela percepção imediata buscada na aparência do objeto.
  • Imitação diferida – imitação na ausência do objeto imitado. Indica a formação de imagem mental
  • Ludicidade – o não comprometimento com a verdade.
  • Pensamento egocêntrico – sua percepção como centro. Só entende a relação numa direção (em relação a ela).
  • Assimilação deformante da realidade – a criança não pensa o pensamento lógico e sim, brinca com a realidade.

O pensamento egocêntrico ou intuitivo têm várias características:

  • justaposição – colocar coisas lado a lado sem conexão lógica
  • transdutivo – vai do particular para o particular
  • sincretismo – misturar conceitos de referenciais diferentes
  • ausência de reversibilidade

Operatório Concreto

Em nível de pensamento, a criança consegue:

  • Estabelecer corretamente as relações de causa e efeito e de meio e fim;
  • Sequenciar ideias ou eventos;
  • Trabalhar com ideias sob dois pontos de vista, simultaneamente;
  • Formar conceito de número (inicialmente concreto depois abstrato).

No plano afetivo, a criança será capaz de cooperar com os outros, trabalhar em grupo e ter, ao mesmo tempo, autonomia pessoal, criando seus próprios valores. Também surgem a vontade, conflitos entre o dever e o prazer e, no final do período, as necessidades afetivas e de segurança são satisfeitas progressivamente pelo grupo, em detrimento da família.

Operatório Formal

No estágio operatório formal, a criança começa a raciocinar lógica e sistematicamente.

Esse estágio é definido pelo despertar do raciocínio abstrato. As deduções lógicas podem ser feitas sem o apoio de objetos concretos. É a transição para o modo adulto de pensar, sendo capaz de pensar sobre ideais abstratas.

Nesse período, o adolescente realiza as operações no plano das ideais,sem necessitar de manipulação ou referências concretas, é capaz de lidar com conceitos como liberdade, justiça, democracia e, assim, domina progressivamente a capacidade de abstrair e generalizar.

Cria teorias sobre o mundo para reformulá-lo, isto é possível por sua capacidade de reflexão espontânea. O exercício da reflexão permite, inicialmente, ao adolescente submeter o mundo real às teorias que seu pensamento é capaz de criar. Esse processo irá atenuar-se por meio da reconciliação do pensamento com a realidade, até ficar claro que a função da reflexão não é contradizer, mas se adiantar e interpretar a experiência.

Saber sobre como as crianças pensam em diferentes momentos de seu percurso de desenvolvimento pode ser importante para que possamos respeitar sua forma de interagir com o mundo e também para atuar de maneira que avancem em seus conhecimentos. Confira o experimento:

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