18 de Brumário e o açoite
Não seria a utilização midiática (de reforço estímulo-resposta) de que o Estado possui direitos onipotentes de explorar a violência a tão aguardada resposta ao massacre que a grande massa de proletariado se convém?
Ora, desde o 18 de Brumário, e sistematicamente, em vários acontecimentos históricos, na luta de classes, a maioria esmagadora dos trabalhadores continua com as costas nua para o açoite.
O que intriga são os motivos que determinam um grande contingente de famintos, passivos durante os processos de dominação identificados por diversos autores que ousaram realizar um resgate histórico da Europa e nas Américas.
O pensamento é lógico. Se tu estás em maioria, poderia imprimir sua força, dominar e colocar as regras como deveriam ser, em seu ponto de vista. Estaríamos fadados a uma ditadura do proletariado. Mas, não!
A lógica é outra. Uma minoria domina uma massa acéfala.
Os insurretos franceses não conseguiram além de um soluço, quando foram utilizados para pressionar a abdicação do rei Luís Filipe I. Feito o trabalho, a burguesia separou o joio do trigo e colocou o proletariado no pano de fundo da revolução de 1848, resultando, no final do processo em um golpe de estado arquitetado pelos desejos de Napoleão III.
O fiasco soviético
Está aqui, o ponto a ser discutido.
Como um sagaz ventríloquo, a massa é utilizada como agente revolucionário para pressionar reis, presidentes e primeiros-ministros. Num passo seguinte, a massa é retirada assim como seus interesses primordiais.
Foi assim na União Soviética, quando, após a revolução vermelha, o lumpemproletariado retirou o poder dos trabalhadores no sentido de colocar os meios de produção em suas próprias mãos “pelo bem da nação”.
O sonho durou pouco e logo o pesadelo se materializou.
É um efeito dominó. A sedução e encorajamento para que o lumpemproletariado, a parte podre dos trabalhadores, influenciasse os companheiros de classe.
A pobreza acaba sendo socializada e o lupem se empapuça com o poste festum encabritados em cargos ou funções.
Partido dos trabalhadores e o lumpemproletariado
Não foi assim nas tentativas de partidos da classe dos trabalhadores?
O material teórico que motivou toda a criação e chegada do Partido dos Trabalhadores, no Brasil, ao Poder, por exemplo, foi esquecido. Aqui, o lumpemproletariado a serviço da máquina partidária também presta serviços a elite, em troca, de uma promessa de amenizar a luta de classes. A retórica da “nata” do proletariado se refere quase que única e exclusivamente ao Spoil System e distorções do sistema democrático.
De qualquer modo, o partido institucionalizou, em seu discurso, uma pseudo-proteção do Estado aos insurretos explorados pelas grandes corporações. Não só no Brasil, foi assim na Bolívia, na Argentina, em outras nações latino-americanas.
Na França, “a tradição histórica originou nos camponeses a crença no milagre de que um homem chamado Napoleão restituísse a eles toda a glória passada” disse certa vez Karl Marx. No Brasil, o partido obteve posse da imagem de que ainda é a melhor opção aos interesses do trabalhador, não que isso acontecesse de maneira racional e lúcida. Mas o fato é que a fome pela desigualdade continua sendo saciada e não ao contrário.
Afinal, os escritos marxistas permanecem para o revolucionário, como o evangelho aos cristãos. É um dogma, não uma prática. Alimenta discursos, mas permanece inviável na práxis.

WEBER, Max. A política como vocação. Brasília, Ed. UnB, 2003.
MARX, Karl. O 18 de Brumário de Luís Bonaparte. 3ª ed. São Paulo: Abril Cultural, 1985.